Mourão rebate Macron e diz que ele 'desconhece' a produção de soja no Brasil
BRASÍLIA — O vice-presidente Hamilton Mourão rebateu nesta quarta-feira a declaração do presidente da França, Emmanuel Macron, de que comprar a soja brasileira significa endossar o desmatamento na Amazônia. Mourão afirmou que Macron "desconhece a produção" do Brasil e que ele representou "interesses protecionistas dos agricultores franceses".
— Monsieur Macron n'est pas bien (Senhor Macron não está bem) — disse Mourão inicialmente, em francês, após ser questionado sobre a fala ao chegar ao Palácio do Planalto.
Em seguida, o vice-presidente afirmou que a "produção agrícola na Amazônia é ínfima" e que a manifestação do francês faz parte de um "jogo político":
— Macron desconhece a produção de soja do Brasil. Nossa produção de soja é feita no Cerrado ou no sul do país. A produção agrícola na Amazônia é ínfima. Por outro lado, nossa capacidade de produção é imbatível. Nossa competição nesse ramo está muito acima dos demais concorrentes
Mourão acrescentou:
— Então, eu acho que nada mais, nada menos, (Macron) externou aí aqueles interesses protecionistas dos agricultores franceses. Faz parte do jogo político.
'Damos de 10 x 0'
Mourão também desdenhou da intenção de Macron de "produzir a soja europeia ou equivalente”:
— Não tem condições de competir com a gente. Em outros aspectos, a indústria francesa é melhor. Agora, nesse aspecto, na produção agrícola, nós damos de 10 a 0.
O vice-presidente disse não ver chances de as declarações do presidente francês influenciarem outros líderes e afirmou que foi um "discurso interno".
De acordo com estatísticas do Ministério da Agricultura, a França importou 1,7 milhão de toneladas de soja do Brasil em 2020, movimentando US$ 570 milhões. Procurada, a pasta informou que não irá se manifestar sobre as declarações de Macron.
O breve discurso do presidente francês está em linha com o plano anunciado por seu governo em dezembro do ano passado, um dia após o Brasil anunciar o maior patamar de desmatamento desde 2008 na Amazônia.
Na ocasião, o ministro da Agricultura da França, Julien Denormandie, detalhou plano para aumentar em 40% a produção de soja no país num prazo de três anos e dobrar a área plantada em uma década.
Rota de colisão com Bolsonaro
Em 2019, Macron entrou em rota de colisão com o presidente Jair Bolsonaro por causa do aumento das queimadas na Amazônia. Como resposta, Bolsonaro debochou da primeira-dama francesa, Brigitte, por ela ser 24 anos mais velha que o marido.
Desde então, o governo francês tem sido um dos principais críticos do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia, que precisa ser aprovado por todos os países do bloco para entrar em vigor. Em outubro, o Parlamento Europeu rechaçou o texto do acordo, citando questões ambientais.