China desafia pressão dos EUA na compra de petróleo do Irã
Tentando contornar as sanções americanas ao Irã, a China irá usar petroleiros iranianos para suas compras do combustível do país, estratégia que dará fôlego aos negócios persas no momento em que empresas europeias como a francesa Total anunciam o encerramento de suas operações na região, com receio de represálias dos Estados Unidos. Com as sanções, Washington tenta forçar Teerã a negociar um novo acordo mais restritivo do que o pacto nuclear de 2015, limitando sua influência no Oriente Médio e concordando em reduzir seus armamentos convencionais.
O governo chinês, que decidiu reduzir as importações de petróleo bruto dos EUA por causa da guerra tarifária iniciada pelo governo Trump, afirmou que se opõe a sanções unilaterais e defendeu seus laços comerciais com o Irã.
Nesta segunda-feira, fontes próximas ao tema afirmaram que compradores chineses do petróleo iraniano estavam começando a usar navios da Companhia Nacional Iraniana de Petroleiros (NITC, na sigla em inglês) para quase todas as importações. A mudança demonstra que a China, maior comprador de petróleo do Irã, deseja continuar negociando a commodity com o país, apesar das sanções reimpostas pelos EUA depois que o governo americano se retirou do acordo nuclear, em maio.
Teerã utilizou um sistema similar entre 2012 e 2016 para contornar as sanções ocidentais, que reduziram as exportações iranianas e tornaram praticamente impossível fazer seguros de navios para negócios com o Irã. Como terceiro maior produtor da Organização de Países Exportadores de Petróleo (Opec), o Irã depende das exportações para China, Japão, Coreia do Sul, Índia e União Europeia para continuar com uma economia funcional.
Os EUA exigiram que compradores de petróleo iraniano cortem suas importações a partir de novembro, o que fez Japão, Coreia do Sul, índia e a maioria dos países europeus cessarem as operações. A gigante do setor petroquímico Total, antes uma das maiores compradoras de petróleo bruto iraniano, afirmou que não teve escolha a não ser abandonar seus projetos no país, a fim de que suas operações nos Estados Unidos fossem resguardadas.
Nesta segunda-feira, o ministro iraniano de Energia, Bijan Zanganeh, afirmou que a Total encerrou oficialmente seus projetos no Sul do Irã notícia posteriormente confirmada pela empresa.
Autoridades iranianas chegaram a sugerir que a estatal chinesa CNPC assumisse a participação da Total nos projetos, e Zanganeh afirmou que o processo de substituição da empresa francesa já estava sendo feito. `Não fomos informados da posição da CNPC, mas eles têm o direito de continuar a participação da Total, se quiserem`, disse a empresa em um comunicado.
EMPRESAS ABANDONAM IRí
Apesar dos esforços do presidente francês, Emmanuel Macron, em manter o acordo iraniano de 2015, defendendo o interesse das empresas europeias no Irã, grande parte delas concluiu que seria preciso abandonar o país por receio de retaliações americanas. A primeira rodada das sanções, que incluem excluir o Irã do sistema financeiro americano e quaisquer negócios com sua participação, começaram a vigorar no dia 7 de agosto.
A proibição da compra de petróleo iraniano começará em novembro. As seguradoras, que são principalmente de origem americana ou europeia, começaram a encerrar seus negócios com o país para cumprir as sanções.
A fim de proteger seus suprimentos, a estatal chinesa de compras petrolíferas Zhuhai Zhenrong e o Grupo Sinopec, líder em refino na Ásia, fazem uso de uma cláusula nos acordos com a estatal petrolífera iraniana que lhes permite usar petroleiros operados pela NITC.
O preço do petróleo sob os contratos de longo prazo foi alterado, de modo que o Irã cobrirá todos os custos e riscos para entregar o petróleo, e também liderá com o seguro, disseram as fontes. Em julho, todos os 17 petroleiros fretados para transportar petróleo do Irã para a China foram operados pela NITC. Em junho, oito dos 19 navios fretados eram operados por chineses.
Não ficou claro como o Irã fornecerá seguro para as compras de petróleo da China, avaliadas em US$ 1,5 bilhão por mês. O seguro geralmente inclui cobertura para as cargas de petróleo, responsabilidade de terceiros e poluição.
PRESSíO IRANIANA SOBRE A EUROPA
Nesta segunda-feira, o Irã voltou a pedir à Europa que acelere seus esforços para salvar o acordo nuclear de 2015. `Os europeus e outros signatários estão tentando salvar o acordo, mas o processo tem sido lento e deve ser acelerado`, disse o porta-voz do Ministério do Exterior, Bahram Qasemi .
Pelo acordo de 2015, o Irã se comprometeu em não produzir a bomba nuclear em troca do fim das sanções da ONU, da União Europeia e dos Estados Unidos. Com isso, esperava colher benefícios econômicos, agora ameaçados pela volta das sanções americanas, capazes de atingir todas as empresas que usam o dólar em transações internacionais e têm negócios com os Estados Unidos.